O MACACO GUARIBA ERA FEIO, MAS DAR UMA GUARIBADA VIROU EXPRESSÃO DE BELEZA

  Por DEONÍSIO Da SILVA* – Guariba veio do tupi “gwa’riwa”, a partir de “guara”, indivíduo, e “aiba”, feio, mau, assustador. Deu origem à palavra guariba, também nome da cidade paulista de Guariba, onde era abundante esta espécie de macacos. Foi lá que um mecânico começou a reformar carros velhos e deu origem à expressão “dar uma guaribada”, com o significado de deixar bonito, atraente, melhor aos olhos.
O macaco guariba era feio pela presença de três pré-molares e três molares de cada lado, tanto nas mandíbulas como nas maxilas, dando ao rosto desse símio um contorno peculiar, que inspirou medo nos índios, influenciando a denominação.
Os primeiros registros do vocábulo datam dos finais do século XVI. No interior de São Paulo, havia muitos desses macacos na Sesmaria dos Pintos e das Cachoeiras, situadas entre Araraquara e Jaboticabal.
No final do século XIX, com a chegada do trem àquela região, alguns fazendeiros locais fundaram um povoado ao redor da estação ferroviária, dando-lhe o nome de Guariba, denominação consolidada em documento de 21 de setembro de 1895, quando João José de Abreu Sampaio (século XIX) inaugurou ali a capela de São Mateus. Era o auge do café e Guariba teve notável desenvolvimento, depois interrompido na crise de 1929.
A retomada se deu a partir de 1940 com a cana-de-açúcar. Os automóveis dos antigos fazendeiros haviam sido transformados em calhambeques pelo tempo, ajudado pelo estado precário das estradas e pelas deficiências de manutenção.
Surgiu, então, um restaurador desses carros desgastados, que passou a atender a proprietários de Guariba e adjacências que a ele recorriam para reformar os veículos.
Nasceu assim a expressão “dar uma guaribada, cuja variante é garibada, no sentido de restaurá-los. Pouco a pouco a expressão veio a ser aplicada também a roupas até chegar à cirurgia plástica, de modo que dar uma guaribada no rosto não remete mais às origens do macaco guariba, mas à beleza dos carros reformados.
*Escritor Deonísio Da Silva é autor dos livros DE ONDE VÊM AS PALAVRAS, 18a edição, e A VIDA ÍNTIMA DAS FRASES, ambos publicados em São Paulo e em Lisboa, pelas Edições 70, atualmente na Alta Books. O título do primeiro foi dado ao autor por Ligia Siciliano, e o do segundo por Pedro Paulo de Sena Madureira, ambos seus amigos e editores no Grupo Siciliano, onde esses livros foram originalmente publicados.

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