O afeto que veio como vento manso e acendeu luzes dentro de mim. Por Flávio Chaves

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  – Há dias em que o tempo se dobra em ternura e o mundo inteiro parece nos olhar com olhos de abraço. Meu aniversário foi um desses dias. Um daqueles em que a vida, como um velho rio sereno, vai recolhendo margens de lembrança, folhas de infância, vozes queridas que voltam como brisa, palavras que não apenas chegam, mas pousam.

E o que recebi, não foram apenas mensagens. Foram mãos estendidas em forma de frase, foram afagos tecidos em letras, foram silêncios cheios de presença. Cada palavra que veio até mim, nesse dia que o tempo me entregou como presente, foi como se alguém tivesse acendido uma lamparina dentro do peito, dessas que não se apagam com o vento, porque são feitas de essência, de memória, de um amor sem nome mas com raízes profundas.

Há algo de profundamente humano nesse gesto de lembrar, de escrever, de celebrar a vida do outro com palavras. Quem escreve no aniversário de alguém não escreve para marcar presença, escreve para marcar eternidade. E foi isso que senti: uma eternidade repartida em gestos, em saudades, em sorrisos invisíveis que viajaram distâncias desconhecidas para me alcançar.

Senti como se as mensagens tivessem saído de todos os cantos do tempo. Vieram de lugares que não cabem no mapa: da infância distante, das estradas divididas, dos encontros breves, das amizades cultivadas em silêncio, da admiração que cresce sem alarde. Vieram como folhas levadas por um vento manso, como vozes antigas que o coração ainda reconhece mesmo quando o rosto já se perdeu na memória.

E é diante disso que me calo por dentro e só posso agradecer com a inteireza de quem sabe que recebeu muito mais do que poderia esperar. A vida tem dessas delicadezas que não se compram nem se pedem, apenas se acolhem, com olhos marejados e alma reverente.

A todos que se fizeram presença, mesmo sem estarem perto, a todos que cruzaram o meu dia com palavras que pareciam ter saído do próprio coração do tempo, saibam que recebi cada gesto como quem acolhe um sopro divino no meio da rotina, como quem abre a janela e encontra, de repente, um campo inteiro de girassóis acenando para dentro.

As mensagens que chegaram a mim não foram meros registros de lembrança, mas sementes de ternura lançadas sobre a terra fértil da minha emoção. E cada uma brotou. Brotou como flor de outono que resiste ao frio. Como gesto antigo que ainda guarda perfume. Como memória que não se apaga mesmo sob a pressa do mundo.

Vocês me deram muito mais que felicitações. Deram-me a prova delicada de que o vínculo humano, quando cultivado com verdade, atravessa o tempo, as distâncias, os silêncios. Deram-me a beleza de saber que as palavras podem ser ponte, casa, abraço. Que há uma forma de amor que não se vê, mas que se sente pulsando em cada linha escrita com intenção e afeto.

E assim sigo, com o peito habitado por cada uma dessas presenças que chegaram em forma de palavra, lembrança ou gesto. Sigo com vocês guardados no território secreto da gratidão que não precisa de nome, apenas de sentimento. E que esse sentimento nos acompanhe, nos dias claros e nos dias nublados, como uma chama mansa que nunca se apaga.

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