Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio: A Travessia Invisível do Poder e da Solidão. Por Flávio Chaves
A coroa, o silêncio e o barco: entre a altivez de Moza e a ruína luminosa de Hamlet.
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Hoje não anuncio apenas a conclusão de um novo livro. Anuncio o florescimento de uma obra que se ergue entre silêncios e revelações, entre a elegância do poder e o abismo das consciências que não aceitam ser domadas. Este escrito nasceu das penumbras do tempo, dos corredores ocultos da alma, onde a palavra não é ornamento, mas chama ardente. Cada linha foi escrita com o fogo daquilo que arde por dentro quando o mundo exige máscaras, mas o espírito reclama verdade.
Não se trata apenas de contar histórias. Este livro revela atmosferas, gestos e silêncios que moldam destinos. Ele foi edificado a partir de encontros impossíveis, e por isso mesmo essenciais: Sheikha Moza, presença que resiste com firmeza sem levantar a voz, e Hamlet, figura trágica que caminha sobre estilhaços de consciência, condenado a enxergar o que tantos preferem não ver. Entre esses dois polos, uma mulher real e um homem simbólico, ergui uma ponte feita de poesia, reflexão e linguagem.
Moza me ensinou a ouvir o poder que se aloja no silêncio. Sua força não se mostra em gestos ruidosos, mas na arquitetura de um pensamento que dispensa estrondos para mover impérios. Hamlet, por sua vez, veio como um sussurro antigo, um espírito inconformado, que insiste em denunciar o que está apodrecido, ainda que isso lhe custe o exílio. Seu drama não é apenas pessoal: é civilizacional, porque toca no cerne do que significa viver entre verdades e enganos.
E é nesse ponto que a escrita se acende em brasas. Foi o Tio Cláudio, usurpador e corrupto, quem o condenou ao exílio sob o disfarce de uma missão à Inglaterra. O barco que lhe deram não era um veículo de escolha, mas uma prisão flutuante, uma tentativa de calar a sua lucidez. O que Cláudio desejava não era apenas afastar Hamlet, era sepultar a própria ideia de Hamlet. E quando partiu, o príncipe não deixou apenas Elsinore: deixou a possibilidade de pertencer a um mundo governado pela mentira.
Essa expulsão mascarada de diplomacia é um dos gestos mais brutais da tragédia. Porque revela que os verdadeiros exilados não partem de livre vontade: são expulsos por enxergar demais, por pensar demais, por ousar nomear o que os palácios preferem esconder sob cortinas de veludo.
Foi nesse terreno ardente que escrevi este livro. Um espaço de tensão entre silêncio e voz, entre poder e fragilidade, entre coroa e consciência. Moza e Hamlet não se encontram na cronologia da história, mas no peso simbólico que carregam. Ela é o retrato da diplomacia que pensa, da mulher que educa com elegância e transforma com firmeza. Ele, a imagem da dúvida que persiste, da ética que se recusa a cegar.
Este não é um livro de leitura rápida, mas de mergulho. Um livro que exige entrega, que pede ao leitor uma escuta profunda, uma abertura para ver além do visível. Ele se constrói em camadas, como os grandes silêncios do mundo, aqueles que não calam, mas convocam. Cada página é um convite, um espelho, um abismo.
Escrever não foi um gesto de repouso, mas de fidelidade. Fidelidade ao pensamento, à palavra e à chama que insiste em iluminar. Não é uma obra que busca a paz, mas a revelação. Não conduz ao esquecimento, mas ao desvelo.
Agora, ao entregá-la, sei que ela pertence aos que também caminham entre reinos e fronteiras invisíveis. Aos que carregam sua lucidez em silêncio como um fardo sagrado. A você, leitor, que reconhece que por trás de cada trono existe uma solidão, e por trás de toda lucidez existe um exílio.
Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio é uma obra feita de fogo e brasas. Está pronta para incendiar aqueles que ousarem tocá-la.
E talvez seja isso, afinal: cada livro, quando nasce, é mais do que um objeto literário, é um corpo em chamas lançado ao mundo. Este, em especial, não deseja apenas ser lido, mas vivido. Que ele seja, para cada olhar que o encontrar, uma chama a mais contra a escuridão, um sopro de coragem contra a mentira, um fôlego de beleza diante da secura do tempo. Que seja, sobretudo, a lanterna acesa que ilumina tanto os corredores do poder quanto os labirintos da alma.
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