Raquel Lyra reativa Daniel Coelho e movimenta o xadrez de 2026

  Raquel Lyra reativa Daniel Coelho e movimenta o xadrez de 2026 – Num gesto que surpreende os que ainda pensam a política apenas pelo que ela parece e não pelo que ela projeta, a governadora Raquel Lyra decidiu trazer de volta ao centro do governo estadual o ex-deputado federal Daniel Coelho, nomeando-o secretário de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha. A escolha pode parecer, à primeira vista, uma simples reposição técnica em uma pasta estratégica. Mas, na verdade, trata-se de uma movimentação com clara leitura política de médio e longo prazo.

Raquel Lyra sabe que 2026 começou muito antes do previsto. O mapa eleitoral já está em redesenho, as forças tradicionais estão em reorganização, e o desgaste precoce de figuras outrora intocáveis abre espaço para reabilitações políticas que possam somar, dividir ou desestabilizar. O retorno de Daniel, que andava em silêncio após derrotas eleitorais seguidas, pode parecer um aceno de reconciliação. Mas é, sobretudo, um cálculo frio de oportunidade.

Daniel Coelho, que teve em Noronha e nas pautas ambientais uma de suas primeiras vitrines políticas, volta a ocupar a cena num cargo que oferece não apenas visibilidade, mas conexão direta com temas caros ao eleitorado jovem, urbano e progressista — setores que podem pesar em disputas futuras. A pasta ambiental deixou de ser apenas simbólica: ela é hoje termômetro de modernidade, consciência global e pacto com a sustentabilidade.

Mas a nomeação também revela que Raquel Lyra tenta montar um governo que transcenda sua bolha partidária, absorvendo forças fragmentadas da direita liberal para se contrapor aos grupos lulistas e à velha guarda da política local. Daniel pode ser útil nesse projeto. Mesmo desgastado, ainda tem recall, presença em debates públicos e sabe construir narrativas. Mais do que um cargo, Raquel lhe oferece uma trincheira de reconstrução.

É preciso entender também que essa convocação é uma forma da governadora deixar recados: um, para sua própria base, mostrando que é ela quem controla a porta de entrada e saída do poder; dois, para seus adversários, sinalizando que está disposta a recompor alianças com antigos desafetos se isso lhe der fôlego para 2026.

Se Daniel vai conseguir reerguer sua imagem e se tornar, novamente, um nome competitivo, só o tempo dirá. Mas ao aceitar o desafio, ele volta ao jogo com uma carta na manga e, talvez, um novo discurso. A política é feita de sobreviventes — e Raquel Lyra acaba de oferecer a Daniel Coelho uma boia no mar revolto da irrelevância.

Se o gesto é estratégico ou arriscado, o futuro revelará. Mas que foi um lance de quem está enxergando mais adiante no tabuleiro, disso não resta dúvida.

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