Itamaraty responde a “The Economist” após reportagem que arrasa com Lula
Ricardo Della Coletta
Folha
O governo Lula (PT) enviou uma carta à revista The Economist após a publicação britânica, em uma reportagem publicada no final de semana, ter classificado o presidente brasileiro como “incoerente no exterior” e “impopular em casa”.
De acordo com relatos de três pessoas que acompanham as conversas, a necessidade de uma manifestação do governo foi discutida em reuniões no Palácio do Planalto na segunda-feira (30).
VIA DIPLOMÁTICA – O primeiro compromisso de Lula no dia foi uma audiência com o chanceler Mauro Vieira, segundo agenda oficial. Nas conversas no Planalto, foi definido que o Itamaraty conduziria o processo. Na carta, assinada por Vieira, o ministro rebate argumentos da publicação britânica.
“Poucos líderes mundiais, como o presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo”, diz Vieira, na resposta.
“Como presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.”
MUNDO MULTIPOLAR – O chanceler também diz que o Brasil vê o Brics —bloco que a The Economist afirmou ter objetivos antiocidentais— como um ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico.
“A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU”, afirma Vieira.
“Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível”.
VIROU MUNIÇÃO – A reportagem da prestigiosa revista britânica com críticas a Lula virou munição para adversários políticos atacarem o petista.
Em publicação nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que a revista “humilha Lula” e que está na hora de o presidente “ir embora”. “Não dá mais para esse senhor ocupar o cargo mais importante do país. Chega”, escreveu.
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), declarado um juiz parcial pelo STF enquanto julgou o petista na Lava Jato, compartilhou a reportagem nas redes sociais e escreveu que a revista está “dando a real sobre o Lula”.
NA CONTRAMÃO – Na reportagem, a revista diz que o posicionamento do Itamaraty que condenou os ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã foi na contramão do que outras democracias ocidentais disseram sobre o tema.
A Economist afirma ainda que o Brasil de Lula, ao engajar-se num bloco dos Brics fortemente influenciado pelas agendas da China e da Rússia, adota posturas que parecem cada vez mais “hostis ao Ocidente”.
“O papel do Brasil no centro de um Brics expandido e dominado por um regime mais autoritário faz parte da política externa cada vez mais incoerente de Lula”, diz a revista.
Há ainda críticas no campo interno. A Economist menciona a queda de popularidade de Lula. Também destaca a votação no Congresso que derrubou um decreto presidencial que previa um aumento no IOF, fato que mostrou fragilidade na relação com Executivo com o Congresso.
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