A falta que você me faz. Por Flávio Chaves

   Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Você me faz falta. Mas não é uma falta qualquer, dessas que passam com o tempo ou que se apagam com a rotina. É uma falta calma, bonita, quase mansa, que se instala como brisa de fim de tarde e vai ficando, preenchendo os cantos da casa e da alma com um silêncio que tem cheiro e temperatura. Não é ausência. É uma presença ainda por vir, como se você estivesse vindo em minha direção, devagar, como quem caminha na beira do coração, sem pressa, mas sem desistir. Eu sinto que você está chegando, mesmo que ainda falte um tempo, um gesto, um abraço inteiro. E isso já me consola.

O amor já chegou antes de você. Está aqui, repousando sobre as almofadas, espreitando pela janela, escutando comigo as mesmas músicas, mexendo no café sem açúcar que eu tomo toda manhã. Já se sentou ao meu lado no sofá, tomou banho na mesma ducha e escreveu bilhetes nos meus cadernos, mesmo que você ainda não tenha atravessado definitivamente essa porta. Sua ausência não pesa como um vazio,  ela pulsa como uma espera viva, uma prece antiga, uma certeza mansa.

É estranho, mas real: você já me habita. Vive no modo como eu penso, no jeito como falo com o mundo, na forma como meu corpo se ajeita quando penso em nós dois. Não é exagero, é amor. Um amor que, mesmo sem rotina, sem calendário, já é cotidiano. Um amor que, mesmo sem toque, já me toca por dentro. Você me faz falta porque é parte de mim que ainda não está na mesma choupana por completo, mas que já se reconhece aqui, dentro deste corpo que te espera com leveza e desejo.

E há dias em que essa falta me emociona. Porque não dói. Ela me revela o quanto é possível amar alguém antes do tempo. Antes da vida dar jeito. Antes da logística, das condições e das conveniências. Amar você é como acender uma vela numa noite ainda sem luz, sem saber quando ela chegará, mas confiando que virá. Eu te espero, não com pressa, mas com plenitude. Porque a falta que você me faz não é ausência: é ânsia de corpo inteiro.

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