Tudo o Que Tenho: Minha Solidão, Minha Esperança e Meu Abraço Agudo. Por Flávio Chaves

  Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Não trago promessas que brilhem como os anúncios luminosos de uma avenida sonâmbula. Não carrego garantias, nem mapas seguros. O que posso te oferecer é a matéria crua da minha existência:
Te ofereço as madrugadas vazias onde me perdi de mim, e só o eco dos meus próprios passos me respondeu.
Te ofereço o cansaço de quem passou noites inteiras acordado, remoendo a lembrança de um nome, o teu, talvez, antes mesmo que eu te conhecesse.
Te ofereço o sal dos meus silêncios, e os olhos cansados de olhar para horizontes que nunca se abriram.

Posso te dar a fidelidade de quem já se abandonou mil vezes, mas ainda assim voltou sempre para o mesmo ponto de partida, feito um cão que ama o próprio dono, mesmo depois de ser enxotado.
Te ofereço a memória de uma manhã chuvosa que só existiu na minha imaginação, mas que guardei como se fosse real, como se fosse nossa.

Posso te dar a minha ausência de certezas.
Posso te dar o peso das derrotas que colecionei com o cuidado de quem junta conchas na praia.
Posso te dar o frio de quem caminhou contra o vento, sem casaco, sem rumo, sem bênção.

Te ofereço minha esperança maltratada, que ainda assim insiste em nascer toda manhã, meio trêmula, meio desajeitada, mas viva.
Te ofereço a poesia que não escrevi, os livros que sonhei e nunca terminei, as frases que ensaiei diante do espelho e que engasgaram na hora certa.
Te ofereço meu medo de perder e, com ele, a minha coragem de te querer, mesmo sem saber como ser teu.

Posso te dar a lucidez amarga de quem sabe que o amor é sempre um risco.
Posso te dar a fome de um coração que nunca se satisfez com pouco.
Posso te dar, se quiseres, a minha última tentativa.

Não trago ouro, nem jardins floridos, nem promessas de eternidade.
Trago apenas um homem que tropeça nas próprias esperanças, mas que, ainda assim, estende as mãos.
Te ofereço o que sou, sem maquiagem, sem amparo, sem escapatória.

Se quiseres, é teu.
Se não quiseres , será meu para sempre.

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