Para a amiga Marina Moraes, com a água da despedida que nos resta. Por Flávio Chaves
Entre palavras e silêncios, uma vida que se despede deixando beleza e sentido.
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Entre palavras e silêncios, uma vida que se despede deixando beleza e sentido. Conheci Marina Moraes em São Paulo, num congresso de jornalistas. Daqueles encontros onde se fala de manchetes, de ética, de coberturas difíceis — mas, às vezes, se encontra uma alma rara. Ela chegou com olhos atentos e sorriso leve. Parecia observar o mundo por dentro, como quem escuta antes de falar. E quando falava, era para dizer algo que valia a pena ser ouvido.
Marina era assim: inteligente sem ostentação, terna sem afetação, criativa até o osso. Era daquelas que sabiam que o jornalismo não é grito nem vaidade, mas escuta, interpretação, palavra bem dita. Uma repórter da alma humana, com vocação para atravessar o banal e alcançar o essencial.

Mas se no jornalismo era grande, na literatura, Marina era íntima do detalhe, uma contista de mãos firmes e olhos sensíveis. Em Água para as visitas, seu livro, ela fez do cotidiano um espelho, e da linguagem, um gesto de acolhimento. Escrevia como quem estende um copo d’água a quem chega cansado: com cuidado, com presença.
Ela viveu entre palavras, mas não apenas as que se publicam. As que se sussurram entre amigos, as que salvam dias difíceis, as que edificam vínculos verdadeiros. Era uma mulher do tempo presente, conectada, ética, humana, e do tempo eterno: porque sua obra, sua gentileza e seu olhar ficam.
Hoje, Marina partiu. E o silêncio que fica é daqueles que ecoam. Porque algumas ausências não calam, ressoam.
Mas entre as lembranças, fica uma certeza: Marina nos deixou água suficiente para seguir.
Água para os que ficam, com a despedida que nos resta.
Share this content:




Publicar comentário