EDITORIAL: Outubro Rosa: enquanto houver silêncio, haverá nossa palavra

Outubro ilumina-se de rosa para lembrar ao Brasil que a vida das mulheres não pode depender de sorte ou privilégio. O câncer de mama é hoje o tipo de neoplasia que mais acomete mulheres no país — estima-se que surjam 73.610 novos casos dentro do triênio 2023‑2025.

Quando detectado precocemente, esse câncer tem chances de cura elevadas — mas a diferença entre a vida e a morte ainda se joga no tempo de acesso ao diagnóstico, à qualidade do atendimento e à equidade no sistema público de saúde.

Em Pernambuco — como em tantas outras regiões do Brasil — muitos obstáculos permanecem: longas filas para exames, falta de equipamentos ou profissionais, sistemas de regulação ineficientes, ausência de estratégias estaduais e municipais devidamente articuladas. Em municípios remotos, o acesso à mamografia pode ser quase utópico. Assim, o rosa de outubro se torna um alerta para o que é estrutural e urgente.

Nossa missão editorial é clara: não vamos ceder ao tom decorativo. Não permitiremos que o Outubro Rosa fique reduzido a apropriações comerciais, eventos simbólicos ou posts superficiais nas redes. Queremos transformar o rosa em exigência — exigência de políticas públicas robustas, de financiamento contínuo, de gestão transparente, de atenção integral às mulheres.

É imprescindível:

  • Que o Estado assegure uma estrutura funcional de atenção primária que identifique riscos, oriente e encaminhe com agilidade.

  • Que o SUS amplie o número de mamógrafos nas regionais e capacite equipes para diagnóstico precoce.

  • Que estados e municípios monitorem resultados, reduzam tempo entre suspeita e confirmação, e garantam o tratamento imediato e humanizado.

  • Que campanhas educativas não apenas estimulem o exame, mas criem consciência sobre desigualdades: a mortalidade por câncer de mama é maior entre mulheres negras e em áreas pobres, justamente onde as barreiras do sistema se manifestam com força.

À sociedade cabe responsabilizar os governos, participar ativamente, exigir resultados e apoiar essas mulheres com empatia e ação.

E às mulheres, que saibam: você não está sozinha. Que seja um compromisso com si — conhecer o próprio corpo, buscar orientação médica sempre que notar algo diferente — mas também um clamor coletivo por um sistema que trate você com dignidade e urgência.

O rosa deste outubro não pode se apagar em novembro. Que ele permaneça vivo nos corredores de nossos hospitais, nas mesas das secretarias de saúde, nas políticas de cada município, no olhar de cada leitor e leitora desta Gazeta Pernambucana.

Enquanto houver omissão, haverá nossa palavra — firme, atenta e comprometida.

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