Conflito de Gerações. Por CLAUDEMIR GOMES
Por CLAUDEMIR GOMES
Um clube que chega a uma final de competição tem seus méritos. Isto é fato, e contra fatos não existe argumentos. Portanto, o centenário Santa Cruz, e o emergente Barra, são merecedores de estarem brigando pelo título da edição 2025 do Brasileiro da Série D. O embate do “novo” com o “velho” é marcado por objetivos análogos que vão bem mais além da conquista de um título. Enquanto o clube catarinense busca a afirmação no cenário do futebol brasileiro, o Tricolor Pernambucano espera dar um salto qualitativo no seu projeto de reconstrução.
Os dois times descreveram campanhas semelhantes na fase de grupos. O Barra foi o primeiro colocado de sua chave com 26 pontos ganhos; resultante de 8 vitórias, 2 empates e 4 derrotas. Aproveitamento de 61%. Por outro lado, o Santa Cruz somou 28 pontos. O Clube do Povo contabilizou 8 vitórias, 3 empates e 3 derrotas, tendo um aproveitamento de 64%.
O Pescador e a Cobra Coral, é assim que são chamados, respectivamente o Barra e o Santa Cruz, marcaram, cada um, 20 gols, e sofreram 10 tentos, na fase de classificação. Mais parelhos, impossível.
Quando os jogos passaram a ser eliminatórios, pelo sistema de mata-mata, O Barra teve um melhor aproveitamento; superou todos os adversários sem enfrentar nenhuma decisão por pênalti. O Santa Cruz decidiu duas classificações nos pênaltis, contra Sergipe e Altos, respectivamente. Os dois times utilizam o mando de campo como a carta na manga que dará a vitória. Durante toda a competição o Barra perdeu apenas um jogo na sua arena.
O conflito de gerações – Novo x Velho – tira a decisão da edição 2025 da Série D do lugar comum, razão pela qual está despertando tanta atenção. De um lado, o centenário Santa Cruz, clube com um passado de glórias; o Terror do Nordeste; Fita Azul do Futebol Brasileiro; Tri Supercampeão Pernambucano; berço de dezenas de jogadores que fizeram sucesso no futebol nacional e internacional e dono do Estádio José do Rego Maciel – Arruda – que durante várias décadas acolheu a Seleção Brasileira em suas incursões pelo Nordeste.
Quando o Santa Cruz estava próximo de completar 100 anos, surge um fato novo no cenário do futebol brasileiro: o Barra Futebol Clube. O clube nasceu na Região Metropolitana das Margens do Itajaí, seguindo os princípios que regem a nova ordem do futebol mundial. Tendo como parceiros o alemão Hoffenheim, e o português Acadêmico do Viseu, o clube que é um exemplo de SAF exitosa. Já disputou duas semifinais do Campeonato Catarinense, e na sua segunda participação na Série D, está buscando seu primeiro título nacional. O Barra possui um estádio com capacidade para 5 mil torcedores e tem um centro de treinamento dotado de uma infraestrutura ultramoderna. Enfim, um clube em sintonia com o novo tempo.
Traçar um paralelo entre a moderna estrutura do clube catarinense, e a antiquada estrutura do Santa Cruz, pode-se dizer que o “novo” larga na frente.
O diferencial que deve levar o pêndulo da balança se mover para o lado do time pernambucano é o seu patrimônio imaterial: a torcida, uma das maiores e mais fiéis do futebol brasileiro.
A torcida coral é tida como um movimento popular, fato que explica o seu crescimento diante de tantas adversidades enfrentadas pelo Santa Cruz no Século XXI, período no qual o clube desidratou, mas nem por isso deixou de contar com o respaldo de sua imensa torcida.
Se vivo estivesse, e aqui vivesse, Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, iria queimar todos os seus neurônios e não explicaria o fenômeno que é a torcida do Santa Cruz.
O Barra joga numa arena cuja capacidade é de 5 mil torcedores. Um pequeno aquário onde o Pescador tem amplo domínio sobre suas presas.
O Santa Cruz joga numa arena que tem capacidade de acolher mais de 45 mil torcedores. Quando o coro uníssono, formado por milhares de vozes, faz ecoar o grito – DÁ-LHE SANTA – é uma barra para qualquer adversário.
Sempre foi assim, e assim será: no grito da torcida.
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