ANSIEDADE E DECISÃO. Por CLAUDEMIR GOMES

  Por CLAUDEMIR GOMES –  Os amigos costumam dizer que escrevo sobre esportes, mas misturo tudo. Confesso que não me vejo escrevendo. Converso com o computador. Nesse monólogo tento repassar, de forma clara, o meu pensamento. Desde que ingressei no jornalismo, como integrante da excelente equipe de esportes do Diário de Pernambuco, comandada pelo mestre Adonias de Moura, aprendi que o futebol é uma fonte inesgotável de saber, e de sabedoria.

O futebol mais popular do planeta explica tudo. Nos mostra a vida como ela é. Basta ficar atento aos detalhes.

Esta semana, ao me deliciar com um texto postado nas redes sociais pelo poeta e amigo, Xico Bizerra – UM QUASE POETA – onde ele presta homenagem a alguns gigantes da literatura como Drumont, Bandeira, Neruda, Bardo, Pessoa…, pincei a frase: “Tudo a dizer-lhe, nada a falar”.

As atenções do futebol pernambucano, no momento, se concentram no confronto do Santa Cruz com o América de Natal, hoje a noite, na Arena Pernambuco, primeiro jogo do mata, mata que vai definir o acesso, de um dos dois clubes, para o Brasileiro da Série C, no próximo ano. A expectativa, emoldurada por grande tensão, me induziu a enviar um vídeo para o amigo, José Gustavo, um dos maiores amantes do Santa Cruz que conheço na atualidade. Sua resposta foi surpreendente:

“Tô uma pilha desde domingo… kkk”.

José Gustavo é um jornalista com grande conhecimento da história do Santa Cruz. Já testemunhou, e vivenciou de formas diversas, momentos memoráveis na trajetória do Clube do Arruda. Chorou de tristeza e se banhou de alegria. Aprendeu que, no futebol o que conta é o momento. E todo momento é moldado pelas circunstâncias. Eis porque Guga está com os nervos à flor da pele.

Foi-se o tempo em que, num confronto entre Santa Cruz e América/RN se apostava no Tricolor do Arruda sem medo. Nunes, Ramon, Luciano Velozo, Givanildo, Zé do Carmo, Ricardo Rocha, Luiz Neto, Birigui, Marlon, Pedrinho, Jarbas, Betinho… têm muito a contar sobre a soberania do Santa nesta queda de braço.

Hoje cedo perguntei a Val – o taxista – torcedor do Santa Cruz raiz, que comprou seu ingresso tão logo as vendas foram iniciadas: “Se você fosse fazer a preleção hoje, na Arena, o que diria aos jogadores?” O silêncio foi sua resposta.

“Tudo a dizer-lhe, nada a falar”, como poetizou Xico Bizerra.

Em momentos decisivos como este que o Santa Cruz vivencia neste sábado, a ansiedade é um adversário difícil de se transpor. O problema é que, apesar de o jogo ser uma decisão coletiva, ela atua de forma individual, e cada jogador reage diferente. Uns não dormem direito; outros vão várias vezes ao sanitário; outros ficam taciturnos, mas também existe o grupo dos que não se abalam.

Os narradores costumam alertar: “Chegou a hora de separar os homens dos meninos”. Sabemos que não é tão simples assim.

Ninguém melhor que o mestre Silvio Ferreira, amante que conhece todos os cubículos dos bastidores do Arruda, para falar sobre essa ansiedade que torna ainda mais tênue a linha que separa o sucesso do fracasso.

Jogadores e ex-jogadores se referem a ela como: “Um friozinho na barriga”.

Meu cunhado, Luciano Macedo, que desde domingo passado anda travestido de tricolor – bermuda com escudo do Santa Cruz; chinelo com marca do clube; camisa e boné tricolor – me liga para saber o que acho do jogo.

“Tudo a dizer-lhe, nada a falar”.

O futebol é arte. Tal qual a poesia.

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