O amor não acaba nunca. Por Flávio Chaves

    Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  O amor não acaba nunca, mesmo quando tudo ao redor parece ruir em silêncio, mesmo quando os olhos já não se encontram nos mesmos lugares, nem os dedos se procuram sob a mesa do café da manhã. Ele não se curva ao tempo, não obedece às regras da lógica nem às sentenças do esquecimento. O amor, esse amor que não se explica, continua existindo mesmo quando a vida tenta sussurrar o contrário. Ele fica no canto da sala onde a gente riu pela primeira vez, no lençol amassado de uma tarde de outono, no nome que não se diz em voz alta mas que ecoa dentro do peito como um segredo que se recusa a morrer.

Talvez seja por isso que, mesmo depois de tantas estações, ele ainda arde. Disfarçado em lembranças, escondido em detalhes que ninguém nota, mas que a alma reconhece com a doce doação dos que já amaram demais. O amor não se despede, ele se transforma em remanso, em ausências que gritam mais alto que qualquer presença. Ele se aninha no corpo como uma cicatriz bonita, daquelas que doem em dias de chuva, mas que também fazem a gente sorrir quando toca com carinho. Não é o tempo que leva o amor, é a pressa, é a falta de escuta, é o medo de permanecer vulnerável quando tudo exige armaduras.

Mas quem amou de verdade sabe: o amor não aceita ser enterrado. Ele pode dormir por um tempo, fingir esquecimento, encenar indiferença. Pode até mesmo se esconder em outros corpos, em outros beijos, em outras tentativas de começar de novo. Mas volta. Sempre volta. No cheiro de um livro antigo, na luz da tarde atravessando a janela com a mesma cor do olhar que um dia nos desfez. Volta quando a música toca, quando a rua lembra, quando o silêncio pesa. Volta quando menos se espera, como um sopro, como um arrepio, como um verso que escapa da boca sem querer.

O amor não acaba nunca porque ele é maior que o tempo, que a distância, que a lógica. Ele é feito de memória, de pele, de instante. Vive onde a razão não alcança, onde os olhos não veem, onde as palavras não bastam. E talvez, só talvez, ele exista justamente para nos lembrar que nem tudo precisa fazer sentido. Que há coisas que só fazem sentir.

Por isso, quando perguntarem se ainda amamos, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois do adeus, talvez a resposta esteja na maneira como baixamos os olhos e sorrimos. Porque quem ama de verdade sabe: o amor não acaba nunca. Ele apenas muda de lugar dentro da gente.

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