Todo grande amor é perseguido. Por Flávio Chaves

  Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc  –  Enquanto o mundo corria, eles se perderam. Não por escolha, nem por cansaço, mas por vozes alheias que empurraram cada um para longe. Ficaram em cantos diferentes do mesmo tempo, respirando lembranças que não se completavam.

Não houve reencontro, não houve busca. O que houve foi ausência, tecida dia após dia como quem tricota uma esperança que não se veste mais. Nenhuma notícia. Nenhuma carta. Só o tempo comendo as bordas das lembranças.

Estavam um no mundo do outro, mas como sombras no vidro, próximos, intocáveis. O que se dividiu não rachou: se esfarelou. As mãos, quando olhavam para si mesmas, viam o rosto do outro. Como se o amor tivesse ficado impresso na pele, tatuado em silêncio.

Não esqueceram um do outro. Esqueceram foi o calendário. As datas, os rituais, os lugares combinados. A perseguição virou desvio, a urgência virou atraso. E então, sem um gesto final, viverem repartidos virou decisão, doída, resignada, permanente.

A vida é assim: às vezes as montanhas se erguem sem aviso e escondem as pessoas que se querem. Deixam-nas assim, ardendo sozinhas em mundos paralelos, acesas uma na outra como lâmpadas em cômodos separados.

Enquanto o mundo corre, eles ainda esperam. Não por um reencontro. Mas por um instante qualquer em que o tempo distraído os cruze outra vez, nem que seja só no pensamento.

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