Faltei dizer a ti tudo que sentia e te perdi. Por Flávio Chaves
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Se eu tivesse dito o que senti, o mundo talvez tivesse parado por um instante para escutar. Porque havia em mim um amor que não cabia no tempo, nem se submetia ao calendário das palavras não ditas. Se eu tivesse dito o que senti, você saberia que era casa mesmo antes de abrir a porta. Que eu já morava nos teus gestos muito antes de me perder no teu nome.
Eu teria dito, sem hesitar, que o seu silêncio era música. Que sua risada, meio torta, era meu lugar de descanso. Teria confessado que o modo como você ajeitava o cabelo, distraída, era meu retrato favorito da vida. Mas calei. Calei porque o amor, quando é inteiro, assusta. E eu, feito menino diante do mar, temi a onda que me tomaria se eu mergulhasse por completo.
Você saberia que, nas noites em que não nos falamos, eu ainda pensava em você com o mesmo cuidado com que se sopra um cílio para fazer um pedido. Que a ausência era presença invertida, e que, mesmo distante, você ocupava o centro exato do meu afeto.
Se eu tivesse dito o que senti, você saberia que não era exagero, era excesso. Não era carência, era transbordamento. Que eu queria ficar, mas não por inércia — por escolha. Queria olhos nos olhos, mãos inteiras, reciprocidade que não mendiga.
Talvez tenha sido orgulho. Ou medo. Ou os dois disfarçados de razão. Mas deixei passar. E hoje carrego esse amor como quem leva uma flor no bolso: escondida, mas viva. Frágil, mas eterna. Se eu tivesse dito, talvez você tivesse ficado. Ou talvez não. Mas saberia. Saberia que foi amada com um amor que não pediu licença. Que apenas foi. Como o vento, como a chuva que chega sem avisar.
Hoje, se houvesse um último instante entre nós, eu te diria, com a prece da alma dos que sonham intensamente e todos os silêncios, que ainda sinto. Que sempre senti. Que o que ficou em mim tem o seu nome bordado no peito. E que, se alguma parte sua também sente, então talvez, apenas talvez, ainda haja tempo para acender de novo o que nunca deixou de arder.
Porque o amor de verdade nunca parte. Ele apenas espera, silenciosamente, no coração de quem ainda ousa lembrar.
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