Os milhões do forró: Os 10 municípios que mais gastaram com cachês nos festejos juninos de 2025 em Pernambuco
Cidades pernambucanas investiram milhões em cachês artísticos durante os festejos juninos de 2025, mas a realidade das escolas, hospitais, salários e transporte escolar ainda dança fora do alcance da transparência
Enquanto o forró ecoava pelos arraiais e as fogueiras iluminavam o mês de junho, milhões em dinheiro público foram empenhados por prefeituras de Pernambuco apenas para o pagamento de cachês artísticos. O dado é oficial e vem do Painel de Transparência dos Festejos Juninos, uma iniciativa conjunta do Ministério Público de Pernambuco, do Ministério Público de Contas, do Tribunal de Contas do Estado e da Amupe, criada para ampliar o controle social e dar visibilidade aos gastos com eventos financiados por recursos públicos.
A soma impressiona: mais de R$ 120 milhões foram destinados exclusivamente à contratação de atrações musicais. O ranking mostra quem são os 10 municípios que mais investiram com artistas, deixando no ar a pergunta: e o resto da estrutura pública, como anda?
Os 10 maiores gastos com cachês artísticos no São João 2025 (segundo o MPPE):
Nº | Município | Valor investido |
---|---|---|
1 | Caruaru | R$ 23,13 milhões |
2 | Petrolina | R$ 20,66 milhões |
3 | Goiana | R$ 17,79 milhões |
4 | Recife | R$ 8,70 milhões |
5 | Araripina | R$ 8,63 milhões |
6 | Santa Cruz do Capibaribe | R$ 8,54 milhões |
7 | Gravatá | R$ 7,84 milhões |
8 | Carpina | R$ 7,82 milhões |
9 | Vitória de Santo Antão | R$ 7,51 milhões |
10 | Paulista | R$ 4,75 milhões |
Festa, cultura e cifras públicas
É verdade que o São João é parte da alma nordestina. Gera turismo, aquece o comércio e movimenta empregos temporários. Mas o alerta permanece: esses valores são apenas os cachês dos artistas. A estrutura física, palco, som, iluminação, segurança, hospedagem, transporte e decoração — não está incluída nesse cálculo.
Com isso, o custo real das festas permanece sob neblina. E nesse cenário surge o questionamento legítimo da sociedade:
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Como andam as estruturas das escolas municipais, enquanto milhões são investidos em artistas nacionais?
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Os postos de saúde têm medicamentos básicos disponíveis?
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Os hospitais estão abastecidos e com leitos suficientes?
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Há transporte escolar regular e seguro em todos dias para os bairros, zonas rurais eoutras cidades?
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Os professores estão recebendo o piso nacional da categoria?
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Os enfermeiros, técnicos e servidores da saúde estão valorizados, ou sofrem com descontos abusivos e cortes de direitos?
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Quanto se investiu em habitação popular, acolhimento de moradores em situação de rua ou assistência social básica?
A conta que não aparece no palco
A cultura é um direito e deve ser celebrada. Mas quando os gastos com shows ultrapassam os limites da razoabilidade, sem que a população tenha acesso aos números totais dos eventos, o que era motivo de festa se transforma em debate público.
Quem fiscaliza esses contratos?
Onde estão os relatórios de impacto?
O que está sendo feito com o restante do orçamento municipal?
É nesse ponto que o forró vira cobrança. E que os refletores se voltam para o que está fora do palco.
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