No Morro da Conceição. Por CLAUDEMIR GOMES
Por CLAUDEMIR GOMES – O dia amanheceu e o sol parece mais radiante do que nunca. É que hoje – quinta-feira 18/09/2025 – é um dia especial nas Repúblicas Independentes do Arruda. Jogadores, dirigentes e torcedores do Santa Cruz subirão ao Morro da Conceição, em Casa Amarela, num momento de louvação e agradecimento a Virgem Santíssima, pelo acesso conquistado pelo Clube do Povo que, no próximo ano, disputará a Série C do Campeonato Brasileiro.
O Santa Cruz é um clube que foi fundado na calçada de uma igreja católica, e quando mudou de domicilio, edificou seu patrimônio num espaço para o qual a imagem de Nossa Senhora da Conceição, no alto do morro, tem os olhos fixos e os braços abertos. Eis a razão pela qual todas as suas conquistas do Tricolor têm o viés da religião.
Nos anos 60, 70 e 80 do século passado, era prática comum, todo clube pernambucano subir o Morro da Conceição um dia após a conquista do título estadual. O tempo passou e houve uma mudança de hábito, mas o torcedor do Santa Cruz raiz mantém sua fé. Até porque, como canta o grande Gilberto Gil, “a fé não costuma faiá”.
O futebol é um “templo” místico que abriga todas as religiões. Católicos, evangélicos, espiritas, a turma do candomblé, da umbanda, todos recorrem as suas crenças na busca do sucesso. E para não levar bola nas costas, e ter os caminhos fechados, as conquistas são creditadas a todos os poderes.
A conexão do Santa Cruz com o Morro da Conceição é uma coisa extraordinária. Sempre haverá pagadores de promessas subindo o morro a pé, ou de joelhos, em agradecimento pela “graça alcançada”, pelo seu clube do coração.
Existe um pelotão de profissionais, na mídia esportiva pernambucana, que perderam a conta das vezes que subiram o morro para testemunhar os campeões fazendo suas orações de agradecimento. E as histórias de superação alimentam a fé.
Miro do Samba é uma das figuras populares mais emblemáticas do Recife de hoje. Reside em Santo Amaro, tem uma vida dedicada ao samba, onde é respeitado como mestre de bateria com vários títulos de campeão. Torcedor do Santa Cruz e, para fechar o currículo, nasceu no 8 de dezembro, dia dedicado à Nossa Senhora da Conceição. Miro conhece uma infinidade de terreiros com suas respectivas Mães e Pais de Santo. Faz pedidos e deixa oferendas em vários lugares, mas quando o Santinha alcança seus objetivos, ele sobe o morro para agradecer a “Minha Madrinha”.
Eis porque o futebol vai muito mais além do jogo jogado dentro das quatro linhas.
Na minha vida de repórter, quando não existia internet, nem telefonia móvel, a busca pela notícia nos levava a visitar os clubes e as empresas dos dirigentes. Alguns tinham um verdadeiro altar, cheio de imagens de santos, em seus escritórios. Outros, optavam pela improvisação de um peji com imagens e símbolos dos orixás. Assim é o futebol de todas as raças, todas as crenças e todas as cores.
O Santa Cruz já alcançou o grande objetivo da temporada: deixar a Série D. É hora de agradecer a Virgem da Conceição.
A nova ordem: Comemorar, rezar e jogar, para lá nunca mais voltar.
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