NO GRITO: DÁ-LHE SANTA! Por CLAUDEMIR GOMES
Por CLAUDEMIR GOMES – “DÁ-LHE SANTA! TRI! TRI, TRI, TRI, TRI, TRICOLOR!”.
Não! Isto não é um grito de guerra como tantos outros proferidos por diferentes torcidas por este mundo afora. Vai muito mais além. É o clamor de um povo que faz do amor incondicional ao Santa Cruz um instrumento transformador. Esse comportamento coletivo não é de fácil compreensão. Para entender tal magia é preciso conhecer a alma das REPÚBLICAS INDEPENDENTES DO ARRUDA.
Ela foi proclamada pelo jornalista e advogado Aramis Trindade, no dia 4 de junho de 1966. Sua constituição: a voz do povo. O poder máximo: a atitude do povo. Eis porque o Santa Cruz Futebol Clube é conhecido como Clube do Povo.
Nos últimos dias o amigo, Aluísio Ferrer, torcedor raiz, tem me enviado o placar das parciais de venda de ingressos para o jogo do Santa Cruz com o Sergipe, amanhã, na Arena Pernambuco. O galope dos números é impressionante: 20 mil ingressos vendidos; 30 mil; 40 mil; 60 mil; 200 mil… Nas REPÚBLICAS INDEPENDENTES DO ARRUDA é assim. Quando se trata de um momento decisivo para o Clube do Povo, o céu é o limite.
O mundo do futebol sabe disso. Não é a primeira vez que causa surpresa, um time disputando a quarta divisão de um campeonato nacional, ter sua torcida ocupando todas as dependências do estádio. Foi assim na primeira vez que o Santa Cruz desceu do céu para o inferno, e agora a história se repete.
Coisa do amor incondicional que torna gigantesco os pequenos gestos. O saudoso Napoleão Macedo – ex-diretor de futebol em tempos de vacas magras no Arruda – me contou que, nos finais de semana, quando o time concentrava, ele pedia a sua mulher, Oneide Macedo, para fazer cinco ou mais bolos para ele levar para concentração. “Era para o lanche dos meninos”, dizia sorrindo com a certeza de que, no lugar do fermento ela colocava uma porção de “pó de amor”.
Certa vez fui escalado para comentar um jogo do Santa Cruz junto com o amigo, José Gustavo, tricolor raiz e jornalista dos bons. A torcida tricolor tomou toda a Avenida Beberibe. A vitória foi construída pelos jogadores que foram fiéis a partitura dos gritos que ecoavam nas arquibancadas. Gustavo não se aguentou e liberou todo o sentimento que lhe liga ao Santinha. Me deixou com a responsabilidade de fechar os comentários e foi mergulhar, junto com uma multidão, no parque aquático do clube. Sua alegria era contagiante. Parecia que estava tomando um banho de purificação no Rio Ganges, na Índia. Coisa do amor incondicional!
Val, o taxista que todos os dias me coloca a par das últimas notícias sobre o Santa Cruz, quando me viu, hoje cedo, sem esconder sua aflição, e frustração pela má jornada dos tricolores no jogo de ida, indagou: “Dá para passar amanhã?”. De pronto lhe respondi: “Vai ser no grito, como sempre aconteceu”.
Quando pediram ao ex-presidente, Rodolfo Aguiar, para escalar o melhor time do Santa Cruz de todos os tempos ele foi pragmático e taxativo: “Um clube com uma história de mais de cem anos é impossível você selecionar onze craques sem cometer injustiças”. Verdade.
De repente, começaram a desfilar nas minhas lembranças, todos os nomes: Tará, Detinho, Pedrinho, Gilberto, Luís Neto, Birigui, Carlos Alberto Barbosa, Louro, Everaldo, Ricardo Rocha, Lula, Paranhos, Levir, Alfredo Santos, Pedrinho Nepomuceno, Léo Moura, Zé Carlos Olímpico, Mirobaldo, Wolnei, Zito, Luciano, Givanildo, Wilson Carrasco, Zé do Carmo, Zé Carlos Olímpico, Carlos Alberto Rodrigues, Levir, Cuica, Betinho, Fumanchu, Nunes, Ramon, Piu, Jarbas, Fernando Santana, Joãozinho, Grafite, Marlon, Rozembrik, Carlinhos Bala, Django, Mancuso, Almandoz, Henágio… Todos escutaram os gritos do povo e souberam traduzi-los com um bom futebol.
Juntos e misturados, 45 mil torcedores gritarão numa só voz:
DÁ-LHE SANTA!
“Porque hoje é sábado”, como diria o poeta Vinícius de Moraes.
Vai ser no grito.
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