Triunfo: A respiração das nuvens desse meu país chamado Pernambuco; veja vídeo. Por Flávio Chaves
Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc – Há lugares que não são apenas lugares, mas estados de alma. Triunfo, no coração das serras do Sertão pernambucano, é um desses espaços em que a geografia se curva à poesia e o tempo parece andar de mansinho, com passos de neblina. Quando a névoa escorre dos céus e repousa sobre seus telhados antigos, é como se o próprio céu suspirasse. E nesse suspiro, o mundo todo se cala para ouvir Pernambuco respirando.
Essa cena, eternizada em vídeos e fotografias, mas sobretudo no coração de quem já pisou em suas ladeiras, nos remete àquela frase que tanto circula pelas redes, mas que nasceu da alma do povo: “Pernambuco é meu país.” E essa frase, apesar da simplicidade aparente, carrega a densidade de uma declaração de amor. Não é apenas um slogan regional. É um grito manso, uma bandeira sem tecido, um poema que não precisa ser escrito. Em Triunfo, essa frase não apenas ecoa, ela se materializa. Ganha corpo, forma, sopro e bruma. Torna-se paisagem.
Ali, do alto de seus mirantes, com o som distante do sino da matriz rompendo o silêncio, o mundo parece se encolher. As distâncias diminuem, os ruídos modernos se afastam, e o que se agiganta diante dos olhos é o sentimento. Pernambuco, naquele instante, não se impõe por força, nem por grandeza geopolítica, mas pela altivez de sua beleza escondida, quase secreta. Triunfo, envolta em brumas, é um altar erguido às tradições, à memória e à identidade nordestina em sua forma mais plena, mais sutil, mais sagrada.
Quando a névoa desce sobre a cidade, lenta e silenciosa, o Sertão se disfarça de Europa, mas sem jamais trair sua essência. É como se o chão seco do Nordeste vestisse um casaco de inverno, só para nos surpreender. A paisagem revela um diálogo improvável: o frio europeu e o calor de resistência do povo sertanejo se encontram. E o resultado não é contraste, é composição. É poesia. Uma poesia que não se escreve com palavras, mas com neblina, pedras antigas, silêncio e cheiro de café coado na varanda.
Em cada sombra projetada pelo casario colonial, em cada raio de luz filtrado pelas nuvens que dançam entre os morros, uma verdade se repete como se fosse um segredo sussurrado ao ouvido: aqui pulsa um país dentro do país. Um país que não precisa de fronteiras, porque está desenhado no peito de quem o ama.
Que esta imagem que nos comove seja mais que contemplação. Que ela seja convite. Convocação amorosa. Chamado silencioso a todos que nasceram ou escolheram Pernambuco como sua pátria íntima. Que o amor por esta terra não se limite ao orgulho momentâneo, mas se converta em cuidado, em zelo, em presença. Que olhemos com o mesmo encanto para as suas cidades esquecidas, para seus artistas anônimos, para seus rios adoecidos e seus saberes ameaçados. Que amemos Pernambuco inteiro, dos mares às serras, das festas populares ao silêncio dos seus vales.
Triunfo é só uma das formas que Pernambuco escolheu para sussurrar sua eternidade. Mas basta essa cena — a respiração lenta das nuvens sobre a cidade suspensa — para compreender que amá-lo é um gesto que nos humaniza. E que dizer “Pernambuco é meu país” é mais que exaltação regional. É um ato de fidelidade à beleza que nos constitui.
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