Estado em Folia, Pernambuco. Por Flávio Chaves

Pernambuco, um Estado em Folia. Por Flávio Chaves

Por Flávio Chaves – Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc   –  O Carnaval de Pernambuco é um espetáculo que desafia o tempo. Com raízes fincadas na história e na cultura popular, ele pulsa em ritmos telúricos, reverberando nas ladeiras de Olinda, no coração do Recife e nos interiores que se enfeitam para a festa maior. Passado e presente se entrelaçam em uma dança frenética, onde frevos, maracatus, caboclinhos e troças se encontram para celebrar a essência de um povo que fez da alegria um patrimônio imaterial.

Houve um tempo em que o Carnaval de Pernambuco era ainda mais visceral, um brado espontâneo das ruas, uma celebração regada a lirismo e resistência. Os antigos blocos líricos, com suas baianas e estandartes bordados, entoavam frevos-canção que falavam de amores impossíveis e da euforia efêmera da festa. As ladeiras de Olinda eram cortadas por bonecos gigantes, herança dos mamulengos e das tradições ibéricas, que se tornaram símbolos do Carnaval pernambucano.

O Recife, por sua vez, fervilhava com os clarins do Galo da Madrugada, o maior bloco de Carnaval do mundo, que já anunciava a festa desde as primeiras horas do Sábado de Zé Pereira. O maracatu de baque virado ecoava pelos becos e vielas, reverenciando os reis e rainhas negras em seus cortejos imponentes, trazendo à tona uma ancestralidade que nunca se apagou.

O tempo passou, mas o Carnaval de Pernambuco continua a ser um dos mais autênticos do Brasil. Se antes a festa era restrita a blocos tradicionais e brincadeiras mais espontâneas, hoje ela se tornou um caldeirão de sons e expressões. O frevo resiste bravamente, sendo dançado por gerações inteiras que se equilibram em seus passos frenéticos, enquanto a nova cena musical pernambucana agrega outros ritmos ao festejo, como o manguebeat, o brega-funk e a ciranda contemporânea.

Nas ruas do Recife Antigo, os foliões se misturam, criando um mosaico humano de cores e emoções. As ladeiras de Olinda, sempre mágicas, seguem sendo um refúgio para quem busca uma folia mais raiz, onde o contato entre músicos, dançarinos e espectadores é tão próximo que se torna impossível saber quem anima quem. O Galo da Madrugada, imponente e cada vez maior, arrasta multidões que dançam sem parar ao som de clássicos imortais de Capiba, Nelson Ferreira e Alceu Valença.

Pernambuco não apenas faz Carnaval, ele é Carnaval. O frevo escorre pelas calçadas quentes, o maracatu ressoa no peito como um tambor ancestral, e os blocos líricos carregam consigo a poesia dos que sabem que a folia não tem idade. É um estado que, por alguns dias, dissolve todas as tristezas na dança, no riso e na comunhão de corpos e almas que se entregam à maior de todas as festas populares.

E assim, entre ontem e hoje, a folia continua. O frevo levanta poeira, a multidão se joga na rua e Pernambuco segue cumprindo seu destino: ser um estado em permanente celebração.

É Carnaval, meu bem. É frevo no pé e emoção no coração.

É Pernambuco em Estado de Festa.

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